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«Bom Dia Avozinha! Então já estas prontinha!?» ... com algumas dores mas de sorriso no rosto reponde que sim. Ajudo-te a descer as escadas...a vestir-te o casaco, ponho-te o chapéu azul... pego na tua carteira e levo-te até ao carro para mais uma viagem....rumo até Coimbra. Acho que até de olhos fechados conseguiria ira lá ter... de tantas vezes que já fizemos esta viagem...
Mais Um «Bom dia ao Segurança e um Volto já, só para deixar uma doente» Saio Contigo de braço em ti e a muito custo vejo-te a querer subir [mais uma vez] aquelas escadas brancas gastas e escorregadias. Mais uma tiragem de analises, mais uns minutos de espera até ouvir o teu nome no meio daquela sala fria e de cadeiras azuis apertadissimas entre si.... Chamam-te e saltas da cadeira como uma criança ao encontro de uma mão cheia de rebuçados... mas esses não te adoçam nem um pouco a vida...
Mais uma caminhada até ao outro lado do edifício... Já não consegues ir pelas tuas pernas, tivemos de ir pedir «um veiculo de formula um» como dizia o Pai... Fazemos o «check in» já na sala de espera dos tratamentos de quimioterapia. A espera desta vez é longa e a tua fome e a nossa começa a apertar. Mas tens medo de que percas a vez... então Vou-te buscar um croaçãn com fiambre e um sumo de pêra, como tu gostas... Passados alguns minutos ressoa o teu nome na sala, impercetivel com o barulho e com o calor que se faz sentir naquele espaço minúsculo.
E lá vamos nós para mais uma aventura. Somos recebidas por uma enfermeira muito simpática e meiguinha que nos indica o local onde vais permanecer, durante 5 horas diz-nos ela com um sorriso no rosto... O teu semblante muda a cada pensamento que tens de ficares ali «fechada» por cinco horas. Passado uma hora de tratamento os teus olhos fecham-se de cansaço e nesse teu intervalo entre o mundo dos sonhos e o real aproveito para ir almoçar.
Ao voltar a sala de onde estas há mais de duas horas e meia reparamos que estas com um brilho nos olhos diferente e dizes-nos que já almoçaste e que agora vais dormir mais um pouquinho porque o João Pestana não te larga... Tu e o teu sentido de humor. faz-me sentir orgulhosa.
O tempo a partir dai parece ter passado a voar, entretida a ler um livro enquanto por entre os intervalos das páginas ia-te pondo um olho, e via-te de sono descansado como um anjo. Num cruzar de folhas ouve-se um bip da maquina que estava a tua direita cheia de botões e números a piscar.... Parece que já estaria a chegar ao fim a tua «tortura». O teu rosto ilumina-se por saber que mais uma etapa está concluída. E que em breve estarás no teu cantinho quentinho e só teu. E eu Sei que nunca ninguém te vai tirar isso.
De regresso a casa pedes para te ires deitar que estas exausta... mas com um brilho nos olhos de quem anseia uma cura, uma boa noticia em breve, um fim deste suplicio para ti. [...] »